Tipo Doutorado
Ano 2013
Orientador PROF.ª DR.ª MARIA PAULA SIBILIA
Título A biopolítica da fome na contemporaneidade:A invisibilidade da vida nua dos famintose a valorização do animal laborans nas narrativas da revista Veja
Resumo Esta tese analisa a narrativa jornalística em torno da miséria — e, mais precisamente, da fome enquanto sintoma dela decorrente — considerando o discurso jornalístico como um indicador dos modos como a sociedade percebe e catalisa tal questão. O fenômeno social da fome e da miséria é examinado enquanto “dispositivo de poder” no mundo globalizado de fins do século XX e início do XXI. O quadro deplorável no qual se encontram milhões de pessoas configurase em meio aos paradoxos do capitalismo contemporâneo, que eleva o consumismo como valor moral ao mesmo tempo em que exacerba a exclusão do jogo econômico de grande parte da população. As questões desta tese são debatidas à luz dos conceitos de animal laborans, elaborado pela filósofa alemã Hannah Arendt em 1958, de biopoder, formulado pelo filósofo francês Michael Foucault na década de 1970, e vida nua, do filósofo italiano Giorgio Agambem, apresentado nos anos 1990. A articulação dessas três noções permite alavancar uma profunda reflexão sobre alguns dos grandes paradoxos do capitalismo contemporâneo. Para sustentar empiricamente a hipótese proposta, o objeto de pesquisa escolhido compreende as reportagens que tratam dos assuntos fome e miséria, publicadas entre os anos 1968 e 2012 na revista Veja — periódico impresso semanal de maior circulação no Brasil e mais antigo neste segmento. A tese aqui defendida detecta e examina, por meio da análise dessas reportagens, certa naturalização do persistente problema da fome na sociedade contemporânea, que — apesar de todos os avanços e conquistas obtidas no campo dos direitos humanos, das liberdades individuais e, inclusive, dos avanços econômicos e tecnocientíficos — não reage nem toma medidas para solucionar tais mazelas que ainda afetam grande parte da população global. Além disso, certos discursos que atualmente circulam com crescente vigor, representados pelas reportagens da revista Veja, mostram que os famintos são responsabilizados por sua própria situação miserável, especialmente por eles não corresponderem ao ideal do empreendedorismo individual que rege a sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, são incluídos nos direitos considerados essenciais, numa tentativa de minimizar sequelas ao estilo de vida apoiado no consumismo e impulsionado pelo movimento dos mercados globais, num regime que fora batizado por Gilles Deleuze como “sociedades de controle”. Neste estudo, observam-se várias transformações nas narrativas jornalísticas ao longo do período abordado. Inicialmente, influenciadas pela concepção do Estado do bem-estar social, as coberturas tratam a questão sob um prisma político e ético. Com a ascensão do ideário neoliberal, porém, identifica-se a prioridade dada pelo periódico nas últimas duas décadas, que segue uma tendência percebida em outras publicações do gênero, a assuntos de interesse dos consumidores-cidadãos da atualidade em detrimento daquelas análises com viés social.

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