Tipo Mestrado
Ano 2014
Orientador Profa. Dra. Ana Lucia Enne
Título A RE-MERCANTILIZAÇÃO DO UNIVERSO DO DESCARTÁVEL ATRAVÉS DA MÍDIA Consumo, Representação e Memória
Resumo Esta dissertação investiga como vem sendo disputados os sentidos em torno da midiatização do lixo.
Para isso, destacamos três documentários que abordam esta temática: Boca de Lixo (1993), Estamira
(2004) e Lixo Extraordinário (2009). A partir da análise das representações destes filmes,
especialmente da prática discursiva de construção dos personagens, propomos observar os
deslizamentos dos sentidos produzidos sobre o “universo do descartável”, termo que abrange os
espaços, sujeitos e coisas marcados pela presença simbólica e material do lixo. Por conta dos sentidos
atribuídos ao lixo, principalmente a poluição e a impureza, os catadores de material reciclável são
igualmente percebidos como impuros, invisíveis e marginais. Entretanto, estes sujeitos estão ativos no
mundo concreto, construindo relações sociais e afetivas. Então, o que faz com que estes sujeitos sejam
percebidos como invisíveis? Por que, de antemão, estes sujeitos são classificados como “rudes” e
“drogados” (adjetivos utilizados em um dos filmes)? Quais os discursos que permeiam as
representações destes sujeitos? Nosso objetivo principal será investigar o jogo discursivo em torno
dessa temática. Os documentários serão usados como aporte para as questões que queremos tratar e
outros exemplos serão citados no decorrer dos capítulos, como a telenovela “Avenida Brasil” (Rede
Globo, 2012), a peça “Estamira” (2012) de Dani Barros, inspirada no filme homônimo, notícias
jornalísticas, dentre outros. Além disso, utilizamos as conversas que tivemos com catadores da
Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (ACAMJG), representada em
um dos documentários. Desta forma, busca-se desenhar a circulação das práticas sociodiscursivas em
torno do lixo e do descarte a partir de diferentes formas de produção de sentidos. Como hipótese
principal, sustentamos que os “sujeitos descartáveis”, ao serem representados via mídia, adquirem
visibilidade e “vida” diante dos espectadores. Em outros termos, estes sujeitos são fetichizados e re
mercantilizados, colocando em questão as fronteiras entre sujeito e mercadoria na contemporaneidade.
Por fim, propomos uma reflexão suscitada a partir do nosso objeto sobre as relações entre memória,
esquecimento e lixo, especialmente no que tange à relação entre “cultura da memória” e “cultura do
lixo” na contemporaneidade.