Tipo Mestrado
Ano 2015
Orientador PROF.º DR.º CEZAR AVILA MIGLIORIN
Título SUPERFÍCIES SILENCIOSAS POÉTICAS DO VAZIO NO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
Resumo Este trabalho reúne os filmes Acidente (Cao Guimarães e Pablo Lobato, 2006), Sábado à noite (Ivo Lopes Araújo, 2007) e Uma encruzilhada aprazível (Ruy Vasconcelos, 2007), realizados no âmbito do “DocTV”, um programa de incentivo público à regionalização da produção e da tele difusão de documentários nos 27 estados brasileiros. Tais filmes costumam ser tomados como obras paradigmáticas de um determinado “estilo” que se inaugura no documentário brasileiro contemporâneo em meados da década de 2000. Este estilo ou “expressão estética” é marcado por uma “suspensão do fluxo narrativo” e uma concentração no “instante da captura da imagem” (Ismail Xavier, 2005), enfatizando uma autonomia dos espaços, que não se subordinam a uma narrativa ou à ação de personagens em cena. Assim sendo, os espaços são esvaziados e se tornam “excessivos” (excedem a narrativa). Verificamos nestas “poéticas do vazio” um investimento na fragmentação e na estetização da banalidade cotidiana, operando uma espécie de “poetização do real”, em diálogo próximo com a videoarte. Em nossa abordagem focaremos principalmente na questão da ausência ou da rarefação de personagens em cena, ausência esta que dialeticamente os presentifica nestes vazios em que os filmes nos lançam. Nossa hipótese é que estes filmes operam como respostas em contraponto à lógica do espetáculo e das sensações (com base no pensamento de Jonathan Crary, Ben Singer, Christoph Türcke, entre outros) e às narrativas do excesso que a esta correspondem (conforme teorizam Mariana Baltar e Linda Williams), bem como ao contexto geral do capitalismo tardio, fortemente marcado por uma centralidade do indivíduo e da vida privada (de acordo com o pensamento de Paula Sibilia) e por uma “capitalização da vida ordinária” (como colocam Cezar Miglorin e André Brasil). Nesta perspectiva analítica enfatizamos como as relações entre corpos e espaços se dão nos filmes, atravessadas por uma presença latente da invisibilidade do extracampo. Para isso, lançamos mão de um diálogo com o pensamento do francês Jean-Louis Comolli em sua crítica aos mecanismos de visibilidade espetaculares e sua exaltação da potência do documentário como locus privilegiado de resistência a essas forças dominantes ligadas à produção audiovisual.

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